9 Comentários
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Avatar de Isaac Palma Brandão

Interessante porque a imagem da serpente que come sua própria cauda é possivelmente uma esplendida metáfora da masculinidade, que é onde o filme é certeiro (vamos esquecer por enquanto toda mistificação dos trópicos, que o filme parece não duvidar). Interessante porque a história do homem que se deixa comer por sua própria cobra, enquanto abandona sua mãe ao viver em seu próprio quarto, é incrivelmente sexual. No entanto o texto, apesar de bem escrito, insiste na recusa de conversar sobre a forma como a história, citada apenas como metáfora - apesar da referência risivel (décadas atrás - aqui uma correção, faz só uma década e isso faz bastante diferença) - é sobre a cumplicidade masculina em sua misoginia flagrante (não estamos falando de apenas um trauma pessoal, e sim, caso leve um tempo lendo os textos que mulheres tem escrito, de um trauma coletivo). Nesse sentido, isso tudo ainda é bem fálico (essa insistente metáfora do gozo unicamente masculino), mas também é a tensão do falo que devora o sujeito, no seu desejo sempre autorreferente ou se devora quando o sujeito se torna a própria cobra e ainda assim, se devora. Nesse sentido, a autoficção masculina parece o adjetivo perfeito para a cena da cobra. Curiosamente ela é apenas literatura, enquanto quem lava louça faz autoficção. Interessante.

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Avatar de Victória S.

Acho curioso como as discussões têm se direcionado para um caminho psicologizante e moralista, com ênfase em motivações internas e externas, ressentimentos e outras elucubrações. A grande descoberta parece ser que tudo se transforma em mercadoria. Como isso é possível? Não sem ironia, fico pensando com meus botões: a canalhice dessa "grande revelação" é externa ou interna? Sou mais Negro Leo, rindo sério e afirmando que "a cultura no capitalismo é a capacidade de produzir afetos lucrativos". Os lucros, congenitamente mal partilhados, são o que realmente importam, não? A linguagem diz respeito ao poder, não à moral. Me espanta que sejam justamente os ousados e entendidos da cultura a se armarem com esse discurso, imputando aos outros árduas tarefas e grandes conclusões... mas, no final, trata-se de poder, não é? Mais do que de questões internas ou externas. Os colegas da estética realmente sofrem; já eu me permito outros engodos em minha área de atuação, onde vingar vem de vingança, mas não só. Procuramos tirar daí promessas a serem degustadas; nada brota do fino ar. E o tempo da serpente é o tempo todo.

P.S.: Como você, me reservo um espaço intermediário para dizer que gostei da referência a Ellen Bass; não a conhecia. Vou procurar. Abraços.

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Avatar de letruska

'splendoroso ler tudo isso!

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Avatar de Casimanias

Excelente texto, Bressane. Preciso voltar a fazer aula com vc. 😉

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Avatar de Ronaldo Bressane

quem é Casimanias?

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Avatar de Casimanias

Oi. Fui sua aluna na época da pandemia. Eu uso um nome fictício aqui. Mas fiz o curso de escritas breves e parte de um submarino com vc.

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Avatar de Ronaldo Bressane

Volte sempre!

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Avatar de Renato

Bressane, ler a sua coluna é a porta de entrada para experiências surreais, bizarras e deliciosas que a neurose cotidiana tenta ignorar no cotidiano ordinário. Obg por compartilhar a experiência de sua mente louca e profunda.

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Avatar de Ana Claudia Calomeni

Queer é sensacional, Craig tá um espetáculo. A dra., uma caricatura, a cena mais linda é aquela em seu apartamebto, quando ele entende que está apaixonado e completamente sozinho. A trilha sonora é um arraso, Craig dá de dez no novinho e as cores do filme me lembraram um Almodóvar em cores frias

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